14.3.06

Capítulo das perguntas - nº 4

Há chaves lógicas em tudo a nossa volta. Como nas moléculas de DNA, são apenas seis substâncias chamadas genericamente de aminas, que combinadas duas a duas, formam uma corrente com informação para o funcionamento de todo o ser vivo.
Pensando no nosso corpo. Se faltarem algumas dessas aminas importantíssimas, vitais, as vitaminas, o corpo sofre e adoece. Não funciona corretamente.

Faltaram as chaves da vida.

Existe uma inteligência orgânica presente também na literatura, nas artes e, como é meu caso, na dramaturgia. O texto teatral existe para a cena. Não se encerra nas palavras. Aí é que entra um trabalho para o ator, que vai muito além da cena e a precede. O estudo e compreensão do objetivo da peça, seu tema, o conflito central e os estranhamentos paralelos que o compõem. Mas existe aquela chave. A lógica, às vezes óbvia, mas nem sempre, que dá sentido e amarra todo o enredo dentro de uma unidade harmoniosa.

Estou às voltas com uma questão. A busca dessa chave dentro do texto teatral pode ser enriquecedora e trazer resultados surpreendentes. Mas se a tal senha existe, porque ela não é revelada pelo próprio autor?

Conquistar o entendimento pleno do texto dramaturgico, através do processo de ensaio tem afinal mais valor no resultado estético do que teria se fosse instruído diretamente pelo autor?

Acho que adivinho a resposta de vários amigos. Parece óbvio... O processo, a descoberta, a conquista...

Mas preciso aprofundar o questionamento. Enquanto isso me estico, pulo e subo em pedras, pra alcançar a minha chave, que eu sei que existe, pendurada ali no alto, fora do alcance das minhas mãos.

5 comentários:

Anônimo disse...

Pelas minhas peças inacabadas ou meu tempo de SNT, por meus personagens de estórias, digo (ou posso dizer pela minha experiência) que o autor dá o tom, mas é o ator que põe a alma. Como uma música que fica diferente em cada voz. Não fosse assim, valeria apenas pelo primeiro que gravasse. Um personagem é único a cada montagem, a cada gesto descoberto, a cada criação própria do ator. Há a diretriz do texto (dada pelo autor ou pelo diretor), mas há a criação do ator, a alma única que incorpora um personagem que era só idéia ou papel antes de virar real num palco. O ator personifica e incorpora (como fosse um espírito que desce na gente) o que o autor trouxe à vida e o diretor pensou ser aquilo que o autor quis dizer. Sua chave é você mesma. Suas emoções e paixões à frente da platéia. Sua chave está pendurada em suas mãos, no seu coração, na sua voz e nos seus gestos. Você é a chave. E a porta é um texto qualquer. Shakespeare ou Nelson Rodrigues, tanto faz. Márcia é o centro de ambos. Centralize-se. Você pode! E me convide para a estréia. Estarei na primeira fila, para aplaudir.
Ronaldo Faria

Johnny Kagyn disse...

Acredito que este aspecto peculiar ao teatro, o de ter um texto que não é em si conclusivo, pois necessita da colaboração do ator, é sua maior virtude. Pois fugindo das conclusões frias este estratagema dá alma, vida e suor a pensamentos antes esquemáticos. Tornar vivo um pensamento é a chave que interessa. Comunicar através da existência criada por um ser chamado ator...

Anônimo disse...

Eu não gosto de teatro. Eu sei, serei fulminado pelo que digo nessa primeira sentença, mas realmente não gosto.

No entanto, gosto de ler o texto dramatúrgico. É forte e intenso, revolto. Tenho receio do ensaio: ao mesmo tempo em que é necessário para habituar o ator à entidade texto-personagem, torna hábito demais algo que é escrito para ser afeito às intempéries, viciado no fatídico.

É só uma opinião. A escolha e a chave sempre serão suas.

Beijos.

Tatiana disse...

Tô gostando de ver, minha querida. Até o pescoço envolvida em teus projetos.
Isso mesmo.
Você vai arrasar!

Márcia Nestardo disse...

Obrigada e todos vocês.
De certa forma essa reflexão me mostrou que não preciso encontrar uma única chave. As possibilidades são muitas e o próprio texto deu aberturas a espera da nossa colaboração.

Até o comentário do .Hezel. teve eco na minha busca. Faço teatro para ser visto, mas imponho a minha busca pessoal ao texto. Tenho agora, como nova perspectiva para meu momento criador, o direito de leitura do expectador que pode até discordar do que eu li e construi. Mesmo assim a cena acontece.

Peço mil desculpas por abandonar os amigos. Teus mundos paralelos, virtuais e aconchegantes continuam sendo meus melhores refúgios.

Beijos pro Ronaldo, Kagyn, Rafael e Tatiana.