31.5.06

Madrugada

Palco sagrado dos sonhos idealizados, impossíveis.
Subversão absoluta de regras e conceitos,
quando os olhos fecham
e os corpos nus transcendem,
mimetizam uma realidade intensa e pura.

Improvisação, contratempos, pausas...

As línguas dançam a canção da alma
Não se perguntam pelo fim.
Os corpos sem governo
brincam (juntos) de acreditar.

Enredo, distância, universos em colisão.
Tudo é um sonho...

Na luz quente do sol da tarde,
derreto os ponteiros.

Desejo a madrugada.

20.5.06

Tentando falar de esperanças

La maza
(Mercedes Sosa)

(Escute)

Si no creyera en la locura
de la garganta del sinsonte
si no creyera que en el monte
se esconde el trino y la pavura

si no creyera en la balanza
en la razón del equilibrio
si no creyera en el delirio
si no creyera en la esperanza

si no creyera en lo que agencio
si no creyera en mi camino
si no creyera en mi sonido
si no creyera en mi silencio

qué cosa fuera
qué cosa fuera la maza sin cantera
un amasijo hecho de cuerdas y tendones
un revoltijo de carne con madera
un instrumento sin mejores pretensiones
que lucecitas montadas para escena

qué cosa fuera, corazón, qué cosa fuera
qué cosa fuera la maza sin cantera
un testaferro del traidor de los aplausos
un servidor de pasado en copa nueva
un eternizador de dioses del ocaso
júbilo hervido con trapo y lentejuela

qué cosa fuera, corazón, qué cosa fuera
qué cosa fuera la maza sin cantera

si no creyera en lo más duro
si no creyera en el deseo
si no creyera en lo que creo
si no creyera en algo puro

si no creyera en cada herida
si no creyera en la que ronde
si no creyera en lo que esconde
hacerse hermano de la vida

si no creyera en quien me escucha
si no creyera en lo que duele
si no creyera en lo que quede
si no creyera en lo que lucha

qué cosa fuera
qué cosa fuera la maza sin cantera
un amasijo hecho de cuerdas y tendones
un revoltijo de carne con madera
un instrumento sin mejores pretensiones
que lucecitas montadas para escena

qué cosa fuera, corazón, qué cosa fuera
qué cosa fuera la maza sin cantera
un testaferro del traidor de los aplausos
un servidor de pasado en copa nueva

qué cosa fuera, corazón, qué cosa fuera
qué cosa fuera la maza sin cantera
un eternizador de dioses del ocaso
júbilo hervido con trapo y lentejuela
qué cosa fuera, corazón, qué cosa fuera
qué cosa fuera la maza sin cantera

5.5.06

Madalena - Numa prece

Ensina-me tua vida, tua fé, ensina tua luta, tuas dores, dúvidas mais atrozes, me ensina.
Ensina-me teu martírio e as escolhas descabidas, embora humanamente éticas diante do oprimido.
Ensina-me teu silêncio, retiro, desterro, vazio.
Ensina.
Ensina-me teu amor, ensina de novo a dor de ser tua não podendo conter-te somente dentro do meu peito.
Ensina.
Também te ensino, na pequenez da minha vida a santidade de ser mulher.
Aprende o meu corpo.

4.5.06

UM CLOWN-BEAT

(por Geraldo Magela Matias)

Há anos escutamos e testemunhamos discursos e fatos. A História parece uma velha gagá que vive repetindo as mesmas tolices, verborragias. Confesso que não suporto mais abrir as folhas enormes dos jornais, assistir telejornais e ouvir repórteres em emissoras de rádio. A situação é similar no cinema, no teatro e na literatura. As passeatas clamando por paz, muçulmanos entregando seus corpos ao terrorismo, judeus exterminando palestinos, miséria quase total na África, subdesenvolvimento crônico na América Latina (...) Continua

1.5.06

Flor da idade


Uma noite. Essa noite, longa. Longuíssima.
Relembrei enredos, revisitei mitos pra reavivar os motivos da insônia. Encontrei o roteiro de um drama, da tragédia que eu queria reescrita. E foi de fato.
Medéia, a feiticeira, virou Joana, macumbeira, costureira de bunda murcha e peitos caidos, vazios, comidos pelos filhos do seu grande amor.
O livro do Poeta nas minhas mãos, ficando marcado de suor, de restos, fragmentos da pele dos dedos. Nos cantos a saliva, lágrimas e sonhos.
Curiosa eu olhava. Até onde isso vai? Uma praia, o mar, outros sertões, cubículos num universo de concreto. Prisões.
Meu sangue escorria, serpenteando vales e memórias. Sagrada fonte da vida, longe da magia de seres míticos, reviravam as entranhas, estranhas ondas vontade.

Medo sim, lembro da voz do riso e choro. Já é muito tarde, preciso ir, preciso.
Sangue, tempo, pele, vinho, dias, suor, toque, pena, vida, dedos, saudade, tremor, pelos, vulva, dores, calor, calor, calor, calar.... Silêncio.
Meu peito estúpido trocava um samba por modinha.


A melodia, divido: (Ouve)

Flor da idade


A gente faz hora, faz fila na vila do meio dia
Pra ver Maria
A gente almoça e só se coça e se roça e só se vicia
A porta dela não tem tramela
A janela é sem gelosia
Nem desconfia Ai, a primeira festa, a primeira fresta, o primeiro amor

Na hora certa, a casa aberta, o pijama aberto, a família
A armadilha
A mesa posta de peixe, deixe um cheirinho da sua filha
Ela vive parada no sucesso do rádio de pilha
Que maravilha
Ai, o primeiro copo, o primeiro corpo, o primeiro amor

Vê passar ela, como dança, balança, avança e recua
A gente sua
A roupa suja da cuja se lava no meio da rua
Despudorada, dada, à danada agrada andar seminua
E continua
Ai, a primeira dama, o primeiro drama, o primeiro amor

Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo
Que amava Juca que amava Dora que amava Carlos que amava Dora
Que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava
Rita que Amava Carlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto
que amava a filha que amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha



Chico Buarque/1973
Para a peça Gota d´água de Chico Buarque e Paulo Pontes