25.2.06

Amamentar é um ato de amor

Foram muitos meses de preparação e expectativa. O barrigão cresceu até quase explodir e não tive mais como segurar. O blog nasceu e é uma menina. Pálida. Pequena. Chorosa como quê. Chama-se Branca. Como a folha de papel virgem. Branca Dias.
O trabalho de parto foi o que é. Tinha que estar doendo muito, pra eu saber que era a hora. Eu soube. Fiz a minha parte, sem melodrama.


A aqui estamos nós. Engana-se quem pensa que o difícil passou. Agora vou amamentar.
Você sabia que o bebê não nasce sabendo mamar? Ele tem o instinto de chorar por fome e sede, e o reflexo de sugar o que lhe chegue à boca, mas mamar é bem mais complexo que isso. E quem tem a obrigação de ensinar o filhote a sugar o peito, fazer força em troca do alimento, suar as pestaninhas brancas? A mãe que também não tem a menor idéia de como tudo isso funciona.
E dói. Bastante mesmo. Fica em carne viva e sangra e inflama. E você não pode tirar a boquinha nervosa do peito, negar o alimento à sua criança. Tem que ter amor demais pra aprender e ensinar ao recém nascido que a regra maior de sua vida é lutar pelo seu alimento.

Assim estamos eu e Branca. Nos conhecendo. Mergulhei de cabeça, já que não posso mais negar sua existência, mas ela já tem me roubado horas de sono e exigido dedicação. E os seios estão um trapo. Rachados, mastigados, febris. Não me venham com aulas toscas de anatomia, que eu quero deixar aqui a imagem que eu tenho: As fontes da vida, o alimento do filho, moram perto do coração da mãe.

Lembro do meu filho Gabriel. Hoje tem 5 anos.
Foi tudo igualzinho: as dores, o parto, o sono e as feridas.
Ficamos nessa dor por quase um mês e meu bebê parecia um rato branco, não ganhava peso. Eu chorava de dor, ele chorava de fome. Ele exigia com sua vozinha potente, de anjo anunciador, o que lhe era direito e eu fazia o meu melhor. Fuzilava com os olhos quem me falasse em mamadeiras. Queria fazer o que é certo. Eu era o certo... durante quase um mês eu o fiz passar muita fome. Ao final, estavamos esgotados. Ele fraquinho e eu derrotada. Eu não produzia a quantidade necessária de leite. De tudo o que já errei na vida, nada pesa tanto em minha consciência quanto os olhinhos fundos, de um anjo desnutrido. Meu filho.

Mas foi por um mês. Quando finalmente aceitei que poderia ser uma grande mãe se reconhecesse meus limites. Evidentemente tudo ficou mais facil. Ele amou as mamadeiras muito mais do que a mim, mas aceitou mamar no peito antes de dormir, e eu encontrei a paz de uma noite de sono.


___________________________________________________

Bom. Barrigas crescem. Crianças nascem o tempo todo. E os seios fartos jorram leite nos forros de algodão, nas camisas, nas blusas. Meu filho com 7 meses já não ligava nada praquele meu aconchego e eu, da minha vida calma, assistia ao crescimento demográfico da família a minha volta.

Certo dia, uma prima com seu filhinho de quase três meses, apareceu em casa toda descansada, serelepe e feliz, com os seios quase estourando de tão cheios e disse que estava desmamando o filho, porque não aguentava mais acordar a cada três horas pra amamentar. Nesse dia eu soube o que era ódio. Jamais senti nada igual na minha vida.

Também pela arte, pela vida sinto ódio de quem empedra seu telento ao redor do coração. Seja por dinheiro, ou por não dar importância, espera que a fúria seque, ignora a náusea, cochila sossegado enquanto o mundo agoniza. Deixa azedar a esperança.
Quantos lutam desesperadamente pra tirar de dentro de si algumas gotas de vida, enquanto outros, a tem escorrendo pelo ralo.
NÃO! Enquanto existirem bocas, olhos, ouvidos famintos de amor, informação, coerência, indignação, será dever do artísta botar os seios pra fora e deixar jorrar o leite.

___________________________________________________

Psssssssiu... Ela está mais calma agora. Minha pequena de barriguinha cheia e sorrizo no rosto. Vou descansar. Logo mais ela acorda e eu estarei aqui. Fazendo o meu melhor.

2 comentários:

Anônimo disse...

Mantenha essa filha viva. Com certeza, dará muitas alegrias. E todos aprenderemos com ela.
Ronaldo Faria

Anônimo disse...

Márcia, você é simplesmente demais!!!
Suas palavras exalam doçura e sensibilidade, próprias de quem é uma prógiga geradora e provedora de vidas, idéias e ideais.
Poxa, e você ainda está em dúvida de que caminho seguir?!?!?!
Vá em frente, mulher!
Gere, crie, desenvolva...
Embriague-se e se enebrie com essa tua essência...
Deixe essa sementinha alva e cândida florescer e resplandecer!
Está tudo aí dentro de você: escute sempre o seu coração e sua intuição e, às vezes, consulte sua razão...
Seja muito feliz, minha mais nova amiga!!!
Quando precisar, é só chamar...

Beijos em teu coração,
Patrícia