
Parti de uma folha de papel branco desenhado de palavras a construir uma realidade paralela.
Precisava conhecer a mente criadora, mergulhar num universo denso, enevoado, obscuro do que seja o instante da criação do texto.
Sem pensar me joguei em cartas, frases, memórias de vozes. Escolhi fragmentos de corpos que me trouxessem pra perto um autor idealizado ao avesso.
Busquei a embriagues pra justificar clichês. Encontrei na fumaça dos cigarros um lapso temporal em que a obra toma vida própria e subverte o poder do escritor.
Num único domingo, de solidão extrema, tomei uma overdose de cinema noir. Sombras e contrastes, tudo cinza, o tango, o cigarro, a narrativa que nos leva pra dentro da estória como fiéis confidentes de personagens maravilhosamente imperfeitos.
Ainda não consegui chegar no fundo. Estou caindo.
Minha busca prossegue e a paixão desta vez faz parte da cena. Não posso fugir.
Quem entende a mente de um escritor apaixonado por sua musa?
Não. Não sou eu, a musa. Sou só o reflexo do arrebatamento.